Public Affairs é uma temática ainda não muito amadurecida em Espanha. O objeto desta matéria é muitas vezes confundido com o lobby, um termo carregado de conotações negativas numa cultura como a nossa, onde parece que apenas os poderes públicos são legitimados para decidir qual é o interesse geral. Esta ideia, sobre a qual a nossa Administração foi construída no século XIX, a ideia velha, impenetrável e objetiva, que decidia o que era o melhor para o povo em todos os momentos, marca ainda, de certa forma, a ethos da nossa Administração.
Esta confusão entre Public Affairs e Lobby não é única, uma vez que também a terminologia Public Affairs é utilizada como sinónimo de relações institucionais, apesar de, como veremos, os três serem conceitos com significado próprio. O conceito de lobby é o mais restrito dos três: está relacionado com a ideia de influenciar diretamente a regulação de um assunto concreto ou de um organismo público com o objetivo de conseguir alterar a sua posição. Englobando o lobby surge o conceito de relações institucionais, que, não só faz referência à capacidade de influenciar, como também de estabelecer um diálogo fluido com todos os atores que compõe o ecossistema de uma relação numa organização, ainda que não de forma direta com os mesmos. Acima de ambos os conceitos está o conceito de Public Affairs, de natureza mais estratégica e que procura integrar as duas realidades anteriores num modelo sinérgico que reconhece a complexidade do ecossistema público e das lógicas que o compõe.
No âmbito de Public Affairs, o objetivo é compreender os interesses e necessidades dos clientes e criar uma narrativa clara e coerente focada no ecossistema público. Não se trata tanto, ou apenas, de influenciar uma decisão, mas de fazer com que o regulador ou os políticos compreendam que todas as partes serão ouvidas no processo de tomada de decisão, porque num mundo moderno, a simplicidade costuma ser, no melhor dos casos, ingénua: não há uma só resposta legítima para os problemas públicos, uma vez que estes são construídos entre todos os atores, e não podem ser apenas os que têm um acesso privilegiado à agenda política a expor os seus argumentos. O direito a ser ouvido, utilizando a terminologia de Michael Ignatieff, é um dos pilares sobre a qual se baseia uma estratégia consistente em Public Affairs porque é, também, um elemento constituinte de qualquer democracia liberal.
Assumir que em sociedades heterógenas como as nossas não só existem problemas objetivos a resolver, como também não têm respostas únicas, (nem definitivas – nenhuma sociedade colocou fim aos grandes problemas) exige um elevado grau de maturidade por parte de todos os atores. Os problemas não se resolvem, gerem-se, e para os gerir bem há que ouvir todas as partes e estabelecer garantias mínimas na relação entre as organizações e os decisores políticos, como por exemplo, a transparência, a participação de todos e o acesso aos decisores. Só assim as sociedades modernas avançam na melhor direção possível.