Bento Rodrigues, pivot e coordenador da SIC há 20 anos, foi o convidado de honra da última Tertúlia de Comunicação. O orador expôs e debateu as grandes problemáticas do jornalismo hoje, enfatizando a importância cada vez maior de melhorar a forma como comunicamos e como os consumidores selecionam as fontes de informação.
Atualmente, segundo o pivô da SIC, a audiência, sobretudo a fatia mais jovem, encontra-se menos disponível para o consumo de notícias nos meios convencionais e não são tão seletivos quanto às fontes dessa mesma informação. Considera que se trata de um fenómeno preocupante, tendo em conta que mais de 60% da informação consumida chega através das redes sociais, substituído a imprensa, a rádio e a televisão como fontes primordiais.
Este facto levanta sérios problemas sobre a credibilidade da informação consumida, uma vez que uma parte significativa chega sem qualquer triagem ou verificação jornalística. Referiu como exemplo os recentes acontecimentos nas eleições do Brasil em que as redes sociais tornaram virais várias informações falsas, mas que acabaram por ser entendidas como verdadeiras e com impacto no eleitorado.
Bento Rodrigues explicou ainda que, neste contexto, para o consumidor chega a ser irrelevante se a fonte de informação é a SIC Notícias ou uma qualquer página no Facebook destinada ao fabrico de informações falsas. A ambas é atribuído o mesmo valor, com a agravante de determinada informação falsa, pelas suas características, ter elevado potencial de se tornar viral.
Neste sentido, o coordenador do canal de informação, considera que o grande desafio que se impõe aos meios convencionais passa por apostar cada vez mais no que é verdadeiramente diferenciador: o rigor, a verificação e a imparcialidade da informação, aproveitando até o facto “do consumidor português ainda ter bastante apetite pelo consumo de informação”.
Entre vários temas em conversa, foi também debatida a importância da seleção dos temas nos telejornais portugueses e os critérios que definem o que deve ou não ser notícia. Efetivamente, torna-se fulcral que se compreenda a importância e responsabilidade de informar e da mensagem ser compreendida. Foi no seguimento desta ideia que Bento Rodrigues referiu que, num contexto ideal, é importante que se desacelere a velocidade da informação, promovendo mais reflexão sobre os conteúdos que devem merecer atenção e mais tempo para tratar a informação, o que não acontece, por exemplo, numa vertigem de diretos.
Considerou ainda que a qualidade deve ser sempre o fator diferenciador, sublinhando que o importante é o consumidor ter possibilidade de escolha, sabendo que ao escolher determinada plataforma ou meio de comunicação está a escolher formas diferentes de tratar conteúdos.
Por fim, comentou-se a forma original como Bento Rodrigues abriu alguns telejornais, nomeadamente em Aveiro, numa entrada de moliceiro e bicicleta, episódios que se transformaram em fenómenos virais. Bento Rodrigues sublinhou que estes trabalhos mostram que, em televisão, a forma também é conteúdo e que a criatividade e reinvenção são essenciais para cativar mais pessoas e novas gerações para o consumo de informação.