“O centro de atenção deve incidir nas pessoas de forma a garantir o mais possível a sua saúde e bem estar mental.”
Teresa Ponce Leão, Presidente do Conselho Directivo do LNEG – Laboratório Nacional de Energia e Geologia, reflecte sobre os impactos e necessidades atuais das empresas e instituições na resposta ao Covid-19, reforçando que é fundamental centrarmo-nos nas pessoas mais vulneráveis, noo rigor no cumprimento das regras e na preparação do futuro.
- Como devem as empresas abordar esta crise despoletada pelo Covid 19?
As empresas devem em primeiro lugar garantir o bem estar e saúde dos seus trabalhadores e dar-lhes condições para que possam dentro do possível trabalhar no modo tele-trabalho. Isso implica fornecer as condições informáticas para o efeito e actuar de forma a garantir o sucesso desta nova experiência inédita que é no limite colocar todas as pessoas em casa e ao mesmo tempo assegurar condições de trabalho.
- Nesta conjuntura, qual deve ser o centro de atenção das empresas?
O centro de atenção deve incidir nas pessoas de forma a garantir o mais possível a sua saúde e bem estar mental. Acalmá-las e garantir que se sentem úteis. Igualmente devemos garantir rotinas para que as pessoas se sintam úteis e manter o estado de pressão para que logo que possível entremos na rotina normal.
- Isto implica sobretudo ter capacidade de adaptação e ser flexível?
Certo. Mudar regras, alterar comportamentos, novas práticas, decisões rápidas e capacidade de entender necessidades específicas.
- Dentro deste protocolo de gestão de crise que outros pontos são indispensáveis para as empresas?
Apoio financeiro principalmente na gestão do curto-prazo de forma a que as empresas tenham capacidade de se adaptar.
- Nesta crise como deve gerir-se a comunicação das empresas e dos responsáveis públicos?
Monitorizando e alertando para todos os factos que possam ter directa ou indirectamente impactos na evolução da crise. Quer alertando para possíveis problemas quer partilhando contributos positivos numa óptica de transmitir sentimento de actuação conjunta e articulada.
- Que papel deve cumprir a empresa perante a sociedade?
Colaboração com as orientações das autoridades e actuar como tranquilizadora mas definindo e fazendo cumprir protocolos de atuação.
- Que 3 coisas não podemos esquecer numa crise como esta?
As pessoas mais vulneráveis, o rigor no cumprimento das regras e preparação do futuro.
Entidades públicas
- Qual é a melhor forma de fazer pedagogia social e política com uma sociedade tão sensibilizada e uma opinião pública preocupada e com um certo grau de pânico em alguns grupos? Como devem comunicar as Instituições e Governos?
Mantando a calma e um discurso credível e consistente. Ser firme nas práticas impostas.
- Os Presidentes da Câmara, sendo as Autoridades mais próximas da população, como devem informar e atuar perante os cidadãos?
Têm que manter um discurso claro e rigoroso actuando com medidas de segurança mas também de apoio aos seus cidadãos. A título de exemplo, O Presidente da Cãmara do Porto tem criado canais de comunicação para ajuda, eliminou o estacionamento pago e em conjunto com as empresas de transporte permitiu a não validação dos bilhetes nos transportes públicos. Mais tarde o Presidente da Câmara de Lisboa tomou medidas idênticas. No outro extremo de dificuldade temos o Presidente da Cãmara de Ovar, que em articulação com o governo, foi obrigado a decretar o estado de calamidade. São medidas atentas, rápidas e que mostram à população que há autoridades a pensar neles.
- Que conselhos daria aos políticos, empresários e cidadãos para gerirem esta crise?
Firmeza, verdade, coragem e serenidade. Informar de forma clara é crucial e muito importante o desmentido imediato de notícias falsas ao mesmo tempo que não esconder as menos boas.
- O que devemos aprender para o futuro?
Aumentar a nossa capacidade de virtualizar o nosso trabalho e investir mais nesta forma de trabalho. Aproveitar esta experiência forçada e construir novas rotinas mais amigas do ambiente. Infelizmente este vírus já fez mais em prol do ambiente que todos os acordos dos países da OCED.
- Vivemos um antes e um depois?
Sem dúvida. Seria muito pouco inteligente não aproveitarmos a nossa capacidade de adaptação para percebermos que podemos ter uma sociedade melhor, mais coesa e mais amiga do ambiente.
- Estão em crise os modelos de governance em todo o mundo? Que administrações saem favorecidas: locais, nacionais, internacionais, globais?
Todos saíremos reforçados desde que não nos esqueçamos depressa. Penso que esta crise, difícil de controlar, poderá ser um exemplo mesmo para as administrações mais cépticas e sobranceiras.
- Se estivesse a gerir uma empresa, quais seriam as três primeiras medidas que tomava?
Posso falar na primeira pessoa. Atenta ao governo português, mal o primeiro ministro deu liberdade aos dirigentes para tomar as medidas que entendessem aplicáveis às instituições de que são responsáveis, comecei por (1) eliminar a marcação de ponto biométrico, (2) identificar a viabilidade de garantir um suporte alargado em teletrabalho e (3) comunicar que quem tivesse condições e quisesse poderia solicitar essa forma de trabalho. Mais tarde houve mesmo um incentivo a fazê-lo.
- Haverá sectores com danos irreversíveis?
Há sectores críticos mas penso que com imaginação e colaboração serão recuperáveis. A Europa sofreu duas guerras recentes de consequências nefastas e conseguiu reinventar-se das cinzas.
- Esta crise era previsível?
Há cientistas epidemiologistas que previam e aviasram o risco pandémico por mutação, acidente ou mesmo por terrorismo. Já no passado a Peste Negra e a Gripe Espanhola tiveram esse efeito mortal na Europa. Espero que este aviso una as inteligências secretas dos países para prevenção no futuro.
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