Análise e Ações: Cláudia Belchior (#ATREVIACovid19)

Cláudia de Oliveira Belchior, é a atual Presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional D. Maria II, cargo que assume desde 2016. Anteriormente, Claúdia desempenhava, desde 2012, o cargo de diretora de Artes do Espetáculo da Fundação Centro Cultural de Belém, onde também foi coordenadora da Direção do Centro de Espetáculos (2010-2012). No período de 2006 a 2008, foi diretora de Produção do Fórum Cultural O Estado do Mundo, no âmbito do cinquentenário da Fundação Calouste Gulbenkian.
Nesta entrevista falamos sobre a capacidade de resiliência e adaptação dos artistas e instituições culturais, bem como dos impactos no setor.

P | Como devem as instituições culturais, os promotores, e os artistas abordar esta crise despoletada pelo COVID-19? Esta adaptação implica sobretudo ter capacidade de adaptação, flexibilidade e resiliência?

R | Esta pandemia afetou as instituições culturais e os artistas de uma forma devastadora. Características como flexibilidade e resiliência fazem parte do ADN deste setor, mas neste contexto de profunda crise, isso não é suficiente; promotores e artistas ficaram sem trabalho de um dia para o outro e isso é particularmente grave num setor constituído sobretudo por trabalhadores independentes que desenvolvem muitas vezes a sua atividade em ciclos sazonais.
Neste contexto dificílimo, as instituições culturais públicas devem ter um papel crucial, ao honrar todos os compromissos financeiros calendarizados e assumidos com as estruturas artísticas, seus trabalhadores, artistas e técnicos independentes. Devem ainda reagendar a atividade cultural prevista, de forma a honrar o seu público e mecenas.

P | Que papel pode a Cultura, neste momento tão particular, assumir perante a sociedade?

R | Assim que foi pedido o confinamento a casa, instituições como teatros, museus, editoras, bibliotecas, bem como artistas de todas as áreas, têm tido um papel fundamental no combate ao isolamento. Multiplicaram-se ações nas redes sociais e em variadíssimas plataformas digitais, que contribuem de forma decisiva para que todos sintam que fazem parte de uma comunidade. A comunidade artística tem sido de uma generosidade extraordinária; todos os dias assistimos a vídeos inspiradores feitos por criadores e artistas extraordinários, que abriram as portas das suas casas. E a cultura também está presente quando centenas de vizinhos se colocam nas varandas e às janelas a cantar, a dançar ou a ouvir música dando sinais fundamentais de esperança num futuro próximo.

P | Mesmo durante o distanciamento social, esta pode também ser uma oportunidade da comunicação, e da forma como se relacionam com o público, se reinventar?

R | Esta crise de saúde pública criou desde logo em enorme desafio no que diz respeito aos públicos que frequentam o Teatro Nacional D. Maria II. Aqui refiro-me à enorme diversidade de pessoas que nos visitam, do público escolar ao público adulto, do público com deficiências ao público geral, dos leitores da nossa Biblioteca|Arquivo aos nossos visitantes. Como manter e cuidar do nosso público fiel? E como chegar a novos públicos? Entre vários projetos destaco a criação da campanha intitulada “D. Maria II em Casa”. Esta consiste na apresentação de uma programação artística com carácter regular na Internet, de acesso livre e gratuito. Desta forma, com o objetivo de incentivar os portugueses a incluírem o teatro nas suas novas rotinas, apresentamos todas as sextas e sábados novas peças de teatro online, que ficam depois disponíveis para serem vistas em qualquer altura. Para o público entre os 3 e 8 anos, criámos a Salinha Online. Todos os sábados e domingos, às 11h, podemos assistir e ouvir atores a ler textos de autores portugueses e estrangeiros, dedicados aos mais novos. Também transpusemos o Clube dos Poetas Vivos para o online (neste caso, no Instagram do Teatro), numa iniciativa onde Teresa Coutinho convida semanalmente diversos atores para leituras, proporcionando um encontro em torno de poetas e das suas palavras.
Outra iniciativa que tem sido muito bem acolhida, é um desafio que lançámos a todos os que estão em casa para partilharem no Instagram ou no Facebook os seus momentos de teatro em casa, recriando cenas famosas de teatro, cinema ou televisão ou mesmo inventando histórias.

P | O Teatro Nacional D. Maria II tem sido um dos melhores exemplos de adaptação e procura de alternativas para continuar a promover a cultura e o Teatro, em Portugal. Quais foram os vossos principais desafios na gestão da programação e na comunicação com o público?

R | A programação online que temos estado a desenvolver tem tido um impacto muito positivo e mesmo acima das nossas expetativas. Até agora tivemos cerca de 50.000 visualizações nos nossos espetáculos online, o que é um número extraordinário. Temos recebido testemunhos incríveis de pessoas que se comovem porque assistiram às nossas peças; recebemos emails de pais e professores a agradecerem a programação infantil; e, através do Facebook e do Instagram, estamos a manter um contacto diário e até “mais próximo” com centenas de pessoas que nos interpelam com questões acerca da programação, de teatro, de autores, etc.
É, no entanto, importante referir que, embora na conjuntura atual o online possa parecer como uma situação ideal, no caso do teatro trata-se de mais uma ferramenta importante de comunicação, que em nada substitui a experiência de assistir a espetáculos ao vivo, dentro de uma sala. A arte de fazer teatro faz-se em comunidade, com o público e artistas a partilharem e comungarem emoções e ideias.
O Teatro Nacional D. Maria II é um teatro de criação e é também um teatro de parcerias, que trabalha estreitamente com centenas de companhias e artistas independentes. Neste momento, estamos a fazer um trabalho gigantesco de tentar recalendarizar todos os espetáculos suspensos, de forma ir ao encontro de vontades de artistas e do público.

P | Haverá setores com danos irreversíveis? E é a cultura um deles?

R | Não é demais lembrar que, neste momento de incerteza e enorme ansiedade, as pessoas recorrem à cultura para se sentirem menos sós, para se entreterem, para sonharem ou para se sentirem de alguma forma confortadas. No entanto, o setor cultural está a sofrer muitíssimo. Muitos artistas e criadores estão com enormes dificuldades financeiras e irão sofrer danos imensos, dado que a maioria trabalha numa economia informal, como trabalhadores independentes ou com contratos a tempo certo.
Apesar dos artistas terem uma capacidade extraordinária de se reinventar, mesmo em situações de profunda crise, é fundamental assegurar condições económicas e sociais e fazer-se uma revisão dos mecanismos de proteção social e de trabalho, para que possa haver criação artística plena.
A curto prazo, creio que haverá um impacto negativo na adesão de públicos após o término da pandemia. Por um lado, poderá haver receio em termos de saúde pública de estar num espaço fechado a assistir a um espetáculo. As instituições e equipamentos culturais terão de assegurar condições de segurança e acessibilidade, para criar confiança no público. Por outro lado, sabemos que os rendimentos da maior parte das famílias vão sofrer uma quebra inevitável, o que terá consequências no acesso à cultura. Contudo, acredito que muitas outras pessoas irão celebrar este momento de reabertura como um momento de encontro e fruição, depois deste isolamento forçado.

P| Considera que vai haver um antes e depois da crise, no âmbito da forma como consumimos cultura?

R | No caso do teatro, esta crise veio chamar a atenção para a importância das plataformas digitais. Se é verdade que esta é uma ferramenta com enormes capacidades, também esta é uma área que lança novos desafios para o futuro, nomeadamente no que diz respeito às capacidades financeiras e técnicas: os espetáculos têm de ser filmados e em formatos profissionais, é necessária formação técnica especifica, as capacidades das bandas para upload têm de ser robustas.
Acredito que a médio prazo, as pessoas voltarão a consumir cultura nos teatros, irão visitar museus e galerias e frequentarão cinemas e bibliotecas. Nada substituirá o ritual e valor simbólico de ir a um teatro, de estar em sociedade ou de partilhar com outros experiências irrepetíveis, já que nenhum espetáculo é igual.

Download para o artigo, aqui.

Newsletter serendipia

Acompanha toda a atualidade ATREVIA e as tendências do mundo da comunicação
Subscrição

Onde estamos

Espanha Portugal Bélgica Argentina  Bolívia  Brasil Chile  Colômbia Equador  México Estados Unidos da América Panamá  Paraguai  Peru República Dominicana

Madrid

C/ Arturo Soria, 99

28043 - Madrid

Tel. (+34) 91 564 07 25

madrid@atrevia.com

Fale connosco

Barcelona

Trav. de les Corts, 55

08028 - Barcelona

Tel. (+34) 93 419 06 30

barcelona@atrevia.com

Fale connosco

Valência

C/Cirilo Amorós, 68

46004 -Valência

Tel. (+34) 96 394 33 14

valencia@atrevia.com

Fale connosco

Corunha

Avenida de Buenos Aires, 5-6

15004 - Corunha

Tel. (+34) 881 255 363

galicia@atrevia.com

Fale connosco

Lisboa

Avda. da Liberdade, 157

1250-141 - Lisboa

Tel. (+351) 213 240 227

lisboa@atrevia.com

Fale connosco

Porto

Rua de Costa Cabral, 777 A

4200-212 - Porto

Tel. (+351) 933 461 279 / (+351) 92 672 82 92

porto@atrevia.com

Fale connosco

Bruxelas

Rue de Trèves 49-51 à 1040

Etterbeek - Bruxelas

Tel. (+32) 2511 6527

bruselas@atrevia.com

Fale connosco

Buenos Aires

Moreno 502

Ciudad Autónoma de Buenos Aires - CAPITAL FEDERAL

argentina@atrevia.com

Fale connosco

Santa Cruz

Santa Cruz -  Bolívia 

Tel. (+591) 67155444

bolivia@atrevia.com

Fale connosco

São Paulo

Av. Ibirapuera, 2120, Cjto. 134

São Paulo – Brasil

Tel. (+55) 11 000718080

brasil@atrevia.com

Fale connosco

Santiago

Alcantara 200 304

Las Condes Santiago - Chile

Tel. Las Condes Santiago - Chile

chile@atrevia.com

Fale connosco

Bogotá

Cra 15 # 88-21. Torre Unika Virrey. Oficina 602

Bogotá -  Colômbia

Tel. (+57) 3506614527

colombia@atrevia.com

Fale connosco

Quito

Avda. Amazonas 3123 y Azuay. Edificio Copladi. Piso 8

Quito - Equador 

Tel. (+593) 987164389

ecuador@atrevia.com

Fale connosco

Guaiaquil

Edificio Sky Building. Oficina 423

Ciudadela Bahía Norte Mz 57 - Guaiaquil

Tel. (+593) 987164389

ecuador@atrevia.com

Fale connosco

Cidade do México

Enrique Wallon 414. Piso 2. Col. Polanco V sección, Alc. Miguel Hidalgo

11580 - Cidade do México

Tel. (+52) 55 5922 4262

mexico@atrevia.com

Fale connosco

Miami

Brickell Key Drive 602

FL 33131 - Miami

usa@atrevia.com

Fale connosco

Panamá

Banistmo Tower. Planta 10. Aquilinio de la Guardia St.

Marbella - Panamá

panama@atrevia.com

Fale connosco

Assunção

Capitán Solano Escobar 294

Assunção-  Paraguai 

paraguay@atrevia.com

Fale connosco

Lima

Av. Camino Real Nº456 Oficina 1003-1004

Torre Real, San Isidro - Lima

Tel. (+51) 652-2422

peru@atrevia.com

Fale connosco

Santo Domingo

Regus Santo Domingo. Roble Corporate Center. Planta 7

Rafael Auusto Sánchez 86, Piantini – Santo Domingo

rd@atrevia.com

Fale connosco