A ATREVIA conversou com Mercedes Blázquez, facilitadora de negócios e consultora de acesso a mercados, que está a frente do programa financiado pela União Europeia Low Carbon Brazil, sobre o impacto da quarentena no meio ambiente.
P | Como vê o impacto da quarentena na redução das emissões de CO2? Acredita que os indicadores divulgados em diversos países apontem que há um caminho para reduzir as emissões nos grandes centros urbanos?
R | Dados recentes indicam que a poluição do ar na China caiu 25% e a NASA indicou que o gás emitido pela queima de combustíveis fósseis reduziu em 30%. Acredito que as emissões vinculadas aos setores produtivos (agricultura e industrial, por exemplo) não devem ser tão impactados a médio prazo. Mas podemos ter mudanças de hábito das pessoas – decorrentes desta pandemia – como menor uso de transporte público por causa do trabalho home office ou até mesmo o menor uso de carros. Contudo, não será suficiente, mas uma pequena contribuição.
P | O que os governos e as sociedades que lutam contra o coronavírus podem aprender com as ações já adotadas para o combate às mudanças climáticas?
R | Penso que ainda os governantes não encontram uma correlação natural entre o coronavírus e como as ações adotadas podem contribuir positivamente. Logicamente precisam analisar as causas do início desta pandemia, como a importância de preservar os ecossistemas naturais dos animais e as plantas, assim como proteger o meio ambiente para que o seu equilíbrio natural não se distorça, criando vetores às epidemias. Para o lado da tristeza, desesperança, é possível lembrar de bons momentos no passado e, também, de outras situações de dificuldade que foram superadas.
P | Qual a importância da preservação de habitats naturais para a absorção de CO2 e também para que doenças de animais silvestres não sejam transmitidas a humanos?
R | O clima é um equilíbrio natural de diversos fatores, como a irradiação solar, os oceanos, as florestas, os glaciares, as áreas montanhosas, os rios. Quando a atividade humana rompe esse equilíbrio, causam-se eventos extremos, e a perda do habitat natural dos animais silvestres não é diferente. Estamos vendo animais circulando pelas cidades em busca de comida, pois perderam seu espaço natural e sua cadeia alimentar. Espero que a humanidade sente para pensar a respeito de como estamos acabando com nosso planeta e também espero que tomem-se atitudes simples que possam, no mínimo, preservar o que nos resta.
“Porque a política, unicamente, não deve reger questões fundamentais como é a saúde, a segurança alimentar, e até o meio ambiente”.
P | Como as empresas que trabalham no setor de sustentabilidade podem contribuir para evitar o desequilíbrio que permite a propagação desse tipo de doença?
R | Penso que as empresas tem que continuar fazendo ou começar a fazer o que algumas já fazem, como assinar compromissos para limitar o aquecimento global, para preservar a biodiversidade, para eliminar os plásticos nos oceanos, para preservar as florestas. As empresas não precisam ser do ramo de sustentabilidade, mas sim apostar em ter um departamento de sustentabilidade que não figure unicamente, mas seja ativo e que tenha um peso na empresa tão grande como possa ser o setor comercial ou financeiro. Porque as perdas das empresas e da sociedade como um todo podem ser muito mais altas quando não se planeja e não se dá o devido valor ao meio ambiente e ao equilíbrio, e as medidas paliativas vão custar trilhões de dólares ao mundo. Essa é a lição a ser apreendida.
P | O que a sociedade deve aprender com a pandemia do coronavírus sobre a forma como se comporta coletivamente e a sua responsabilidade em preservar o meio ambiente?
R | A sociedade deve aprender a ouvir a comunidade científica, tomar atitudes de prevenção, exigir dos seus governantes especialistas de alto nível técnico/científico (e médico no caso da saúde humana e animal), quando se trata de dirigir um país, uma empresa, uma crise. Porque a política, unicamente, não deve reger questões fundamentais como é a saúde, a segurança alimentar, e até o meio ambiente. A sociedade deve aprender a estar informada, a ter participação na tomada de decisões mas sobretudo, a ser crítica e pensar no coletivo.
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