Crónica de Núria Vilanova publicada no diário económico, empresarial e financeiro da Colômbia “La República” sobre Responsabilidade Social Empresarial.
Costuma dizer-se que o “peixe graúdo” come o “peixe miúdo”. Contudo, esta situação está a mudar em alguns aspetos do mundo empresarial, principalmente nas empresas que têm, no seu ADN, o impulso da Responsabilidade Social Empresarial (RSE). Ausentes na América Latina até há alguns anos, as políticas de RSE tornaram-se num pilar importante da atividade de muitas empresas. Cada vez é mais palpável a preocupação empresarial com questões, como o comportamento ético, o bom governo, as condições laborais, o impacto no meio-ambiente, o emprego de grupos menos favorecidos ou o desenvolvimento de áreas sociais, de saúde e de educação. E também de empreendimento.
As empresas deram-se conta que a RSE tem consequências positivas diretas e indiretas em várias áreas. No âmbito político é o antídoto contra populismos e aposta que favorece a competitividade. Criar emprego formal, bem preparado e remunerado aumenta a produtividade e acrescenta valor ao produto oferecido. Tudo isto tem impacto no âmbito social: promove a integração e coesão ao mesmo tempo que diminui a pobreza e a desigualdade.
Os países latino-americanos, desde a sua idiossincrasia, avançaram em RSE, em especial o Brasil, Colômbia, México, Chile e Peru. Desta forma, as cimenteiras mexicanas impulsionam a construção de casas dignas; a ArcelorMittal México contribui para a luta contra os vícios dos jovens e a LAN Peru tem um plano de recuperação de espaços públicos. Na Colômbia destaca-se o trabalho de fundações como Corona ou a própria Associação de Fundações Empresariais. Um relatório neste mesmo diário destacava o trabalho social impulsionado em RSE por 15 empresas sediadas na Colômbia, entre elas a Ecopetrol, BBVA, ExxonMobil, Pacific Exploration and Production, Jumbo, Fedecafé, GM Colmotores, Claro ou Grupo Éxito.
Porém, ainda há muito a fazer num momento em que a forma de desenvolver a RSE também explora novas vias. Anteriormente as empresas voltavam o seu esforço para o mecenato cultural, impulsionando projetos pouco institucionalizados e personalistas. Posteriormente, as empresas latino-americanas – ao contrário das europeias – substituíram o Estado, tentando chegar onde as administrações não podiam, com programas de apoio à saúde, alimentação e educação. Assim, por exemplo, algumas petrolíferas e empresas mineiras peruanas assumiram a construção de centros de saúde, escolas e até estradas.
Atualmente as empresas começam a assumir outro desafio na RSE: apoiar empreendedores e o crescimento das PMEs. O apoio na criação de PMEs competitivas e produtivas com capacidade inovadora e de internacionalização perfila-se como uma grande oportunidade. Contar com boas PMEs torna-se assim na melhor ação de RSE e num bom exemplo de colaboração dentro do âmbito privado e no terreno da cooperação público-privada. Em muitos países, apesar de 80% das empresas serem PMEs, estas representam apenas 40% do PIB. A sua dimensão impede-as de investir em tecnologia, inovação e internacionalização.
Em Espanha, foi consolidada uma iniciativa inovadora que pode servir como modelo e guia de apoio às PMEs dentro da RSE das grandes empresas. Organizações como a Telefónica, BBVA ou Repsol desenvolveram programas de apoio a empreendedores com o objetivos de ajudá-los a crescer e evitar essa fatídica percentagem de óbitos de novas empresas nos seus primeiros três anos de atividade. Outra iniciativa, do Conselho Empresarial da Competitividade e do Instituto da Empresa Familiar, foi apadrinhar PMEs para contribuir para a sua internacionalização.
Desta forma, consegue-se dar a volta ao ditado. O “peixe graúdo” não só não come o “peixe miúdo”, como o ajuda a crescer em benefício de todos.