Após a nova repetição eleitoral de 10 de novembro passado, o dia pode ser resumido de acordo com as seguintes chaves:
- SONDAGENS
As previsões apresentadas nas sondagens da passada semana, anteriores às eleições, cumpriram-se com exatidão: o PSOE não superaria os resultados que obteve em abril. O PP, por seu lado, cresceria, pese embora marcado pela ascensão em flecha do Vox, enquanto Unidas Podemos continuava em queda, Ciudadanos (Cidadãos) afundava-se, e Más País (Mais País) não chegaria sequer a descolar.
- PARTICIPAÇÃO ELEITORAL
Tendo em conta os resultados que se conhecem dos Censos de Espanhóis Residentes (CER), assim como o desconhecimento sobre os espanhóis residentes ausentes (conhecidos como votos CERA), a queda do número de votos colocados em urna (voto presencial mais voto por correspondência) foi bastante significativa quando comparado com abril passado: quase menos seis pontos percentuais de votantes (de 75,75% a 69,87%), representando menos dois milhões de votos do que em abril.
- O VENCEDOR
O Vox foi o grande vencedor da noite, duplicando o número de lugares e alcançando, mesmo num cenário de menor participação eleitoral, quase mais um milhão de votos do que no exercício eleitoral de abril. Algumas das zonas mais povoadas do país, como Cádis ou Sevilha, colocaram o Vox como segunda força partidária, à frente do PP, que foi igualmente ultrapassado nas províncias catalãs de Girona e Tarragona.
- BOAS NOTÍCIAS, MAS MENOS
O Partido Popular foi o outro vencedor da noite, ainda que com sabor agridoce. Ganhou 22 assentos parlamentares e alcança mais quatro pontos percentuais nestas eleições (aproximadamente mais 700 mil votos). As expectativas, neste caso em particular, jogaram contra o partido de Pablo Casado, já que as previsões apontavam para uma queda de cerca de 100 deputados.
- O DERROTADO
O Ciudadanos saiu como grande derrotado destas eleições, perdendo mais de dois milhões e meio de votos, representando uma perda de quatro em cada cinco lugares que possuíam no Congresso. Tudo indica que os seus eleitores não compreenderam as decisões tomadas pelo partido nos últimos seis meses e demonstram-no desta forma ao partido. A demissão de Albert Rivera, anunciada esta manhã, era, portanto, inevitável.
- O DERROTADO, MAS MENOS
Os três partidos de esquerda que atuam no âmbito nacional e que se apresentaram às eleições também saíram derrotados. O PSOE não conseguiu rentabilizar a ida às urnas, perdendo três assentos e deixando pelo caminho quase 700 mil votos. O Unidas Podemos, por outro lado, parece continuar o seu lento, mas aparentemente irreversível, declínio, tendo agora apenas metade dos lugares que conseguiu em 2016. E o Más País não chegou sequer a despertar o interesse do eleitorado, e com apenas três deputados eleitos afasta-se das suas expectativas iniciais.
- CATALUNHA
O cenário político catalão mantem a sua elevada complexidade. Os eleitores catalães enviaram para as Cortes oito forças políticas diferentes. Contabilizados os 48 deputados catalães, 23 são separatistas (ERC, JxC e CUP), 7 são partidários de um acordo para um referendo (ECP) e 18 são constitucionalistas. Relativamente ao cenário de abril, o conjunto de separatistas ganha o lugar perdido para os constitucionalistas.
- AS POLÍTICAS ELEITORALISTAS CHEGARAM PARA FICAR
Os partidos de âmbito regional desconetados das reivindicações nacionalistas chegaram ao Congresso em abril pela mão do Partido Regionalista da Cantábria e consolidam por ora a sua dinâmica através da presença da plataforma “Teruel Existe”. Esta tipologia de partidos, comumente conhecidos pelo termo anglo-saxónico “pork barrel”, evidenciam a dificuldade acrescida dos partidos políticos em articular-se com interesses de âmbito nacional.
- UM CONGRESSO MAIS FRAGMENTADO
A partir de 3 de dezembro sentar-se-ão no Congresso 16 formações políticas, metade das quais far-se-á representar por cinco ou menos deputados, evidenciando a fragmentação do sistema político espanhol.
- PRÓXIMOS PASSOS
No dia 3 de dezembro serão constituídas as Cortes Gerais, e nesse mesmo dia, após a constituição de uma Mesa de Idade (que reúne o deputado mais velho juntamente com os dois mais jovens) procedem-se às eleições da Mesa, e consequentemente, as eleições da Presidência, tanto do Congresso como do Senado. A abertura da legislatura terá lugar nos 15 dias seguintes (antes de 19 de dezembro) e, a partir daí, iniciar-se-ão as consultas ao Rei e aos porta-vozes dos partidos com fim a propor um candidato à Presidência do Governo.